Tuesday, May 12, 2009

Luarte 9 anos, de teatro dedicado a vida!

Passaram 9 anos desde que mais de duas dezenas de adolescentes juntaram-se na Mozarte, apaixonados pelo teatro, dança, desfile de moda, poesia e demais coisas. Nessa altura ainda não sabiam muito bem que rumo tomar, mas de uma coisa tinham certeza: a arte era o seu caminho, queriam estar juntos, queriam compartilhar suas experiências e anseios, queriam descobrir o mundo e sobretudo descobrir-se a si mesmos.
O tempo passou, as coisas foram se definindo, saíram da Mozarte á procura de novos ares, o Acba os recebeu de braços aberto, também assim foi na Unidade 22 e nestes locais o grupo se reencontrou fez montagens dignas de realce. Nasceram neste percurso “Loucura”, uma historia sobre os madjermanes, quando suas reivindicações ainda estavam ao rubro. Também ganhou alma “Joana Moçambique” com que ficamos conhecidos e outros espectáculos. Brindaram o seu publico ainda com “Embrulhados na inocência”, um espectáculo sobre á corrupção no seio da policia, “Á republica dos Mabuzas” uma analise sobre o nosso cenário político e mais recentemente “Á política do estômago”.
Ganharam consciência de que seu caminho só faria sentido quando compartilhado, juntaram-se a pessoas mais entendidas nestas coisas do teatro e se fortificaram. Participaram em co-produções com companhias de cá e de lá, hoje são convidados permanentes nas produções do Mutumbela. Fizeram amizade com companhias espanholas e alemãs e actuaram junto destas.
Aqueles miúdos de 2000 que percorriam esticadas distancias para um ensaio ou apresentação nos bairros suburbanos de Maputo e arredores, descobriram o potencial que esta dentro de si, transformaram seu grupo em associação e passaram a dedicar á sua arte á vida. Hoje eles intervém no âmbito da prevenção as calamidades na Zambézia e Nampula e em outro projecto ligados á democracia, boa governação, HIV/SIDA um pouco por todo país. E agora preparam-se para os próximos 9 anos. Força pessoal!

Monday, May 11, 2009

Teatro na prevenção das calamidades em Morrumbala





Depois da oficina, os grupos de teatro entraram num processo de criação e apresentacção dos espectaculos nas suas comunidades, tendo em conta as dinamicas e realidades locais. Os espectaculos versam sobre situações de calamidades vividas pelas comunidades, bem como discutem questões ligadas a segurança alimentar.
No proximo mês de junho, irá realizar-se na sede do distrito uma mostra de teatro sobre as calamidades envolvendo os 12 grupos. De salientar que as peças que vão ser apresentadas nesta mostra serão escolhidas pela comunidade dentre as que os grupos tem apresentado. Sendo que depois da mostra, todas as peças vão ser transformadas para o modelo de teatro radiofonico e emitidas através da radio comunitária local.
Fotos: as duas primeiras mostram aspecto do espectaculo de encerramento da oficina e a ultima os participantes.

Teatro na prevenção das calamidades em Morrumbala



O Luarte orientou no passado mês de Abril, uma oficina de formação em tecnicas de teatro-fórum a alunos e professores de 12 escolas do distrito de Morrumbala (sendo 4 de Chire, 4 de Pinda e as restantes da Sede do distrito). A oficina enquadra-se dentro do projecto teatro-radios, implementado pela oikos em parceria com o Luarte, cujo objectivo é incentivar a participação juvenil em actividades de prevenção e mitigação dos riscos das calamidades.
As fotos são do evento publico realizado no ultimo dia da capacitação no mercado local.

Elenco da peça "A politica do estomago", brevemente em palco


Da esquerda para direita: Alice, Fakir, Meiva, Charlote,Chembene, Mambucho, Arlete, Mazuze, Muchanga, Chadreque (música) e Hermelinda

Dona Celeste, uma Moçambicana de Xai-Xai , com aparência de Nigeriana, no lixo.

Este texto foi escrito em 2007, como resultado de um processo de formação sobre o teatro e estetica do oprimido e publicado na revista Metaxis

Ela foi parida do lixo, a partir do nada, ela é a prova de que a criatividade não tem limites e tudo é possível transformar ao nosso jeito, consoante as nossas oportunidades.
Da mesma forma que os poemas, bandeiras individuais e depois colectiva, Dona Celeste, surgiu a partir das nossas ideias e um trabalho colectivo, em que todos tínhamos algo para dizer e fazer. Uns diziam que ela parecia uma moça grávida, abandonada, outros, uma doente mental, sem rumo, outros ainda um monstro, entre outras interpretações da figura que estava a nascer. Peça a peça, pintura a pintura, o nosso ser humano no lixo ganhava personalidade e uma identidade. Todos os homens têm direito a um nome.
Os seios cresceram, os lindos cabelos pretos tomaram forma, tomou forma igualmente o seu belo rosto cansado pelas vicissitudes da vida e opressões sofridas. Era momento de liberta-la.
Lá foi Dona Celeste na boleia, passeando pela cidade de Maputo, subúrbio adentro chegou ao Kape-Kape, no Chamanculo , ela também tem algo para dizer aos seus filhos, irmãos e amigos, no dia mundial de luta contra o SIDA e posicionou-se estrategicamente, em frente da casa onde cresceu e começou as correrias Lurdes Mutola , a moçambicana campeã mundial dos 800 metros, a preparar-se para o segundo ouro olímpico em Beijing. Deus estará connosco, acreditamos que sim!
Todos olhavam para ela, quem será esta mulher imponente que invade o olhar de todos. E as crianças respondiam é Dona Celeste, veio de Xai-Xai, ela é moçambicana apesar de ter uma aparência “nigerianada”. Ela é africana. Confesso que até hoje não percebi porquê Dona Celeste parece-se com uma Nigeriana, será pelo fardo que carrega, ou por ser africana!
Dona Celeste foi ao Chamanculo, um dos mais emblemáticos bairros de Maputo, não só famoso pela Lurdes Mutola, menina de ouro, e pelos excelentes jogadores de futebol, músicos, artistas que pariu e lançou ao mundo, mas sobretudo pelos problemas que enfrenta que vão convergir na delinquência juvenil, consumo excessivo de álcool e drogas, prostituição, fraco saneamento do meio entre tantos outros problemas que necessitam de uma intervenção rápida.
E ali estava Dona Celeste com o TO, a discutir o HIV/SIDA, no dia mundial de luta contra este flagelo que ameaça a prosperidade de Africa e tira sono a milhares. Há esperança! E a esperança está na construção de um sonho comum e um Moçambique melhor, espelhado na nossa gigante e expressiva bandeira , fruto da paixão de Moçambicanos, do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Indico, pela sua terra.
A nossa esperança está em Dona Celeste que nasceu, já grande, daquilo que desprezamos e apelidamos lixo, quando podemos tirar grande proveito. E eu pergunto, não estará o ser humano no lixo (lixo de verdade) cercado de opressões. Não estará o homem no lixo, quando fecha os olhos e não quer aceitar a sua natureza humana!
“O ser torna-se humano quando descobre o teatro!”Boal. E dona Celeste e os bravos moçambicanos que assistiram o seu parto descobriram o TEATRO DO OPRIMIDO!

Gostaria de dar um grande abraço a todas e todos moçambicanos que se apaixonaram pelo Teatro do Oprimido e o aceitaram como instrumento de trabalho, mas sobretudo, como estilo de vida.

“ O acto de transformar é transformador” Boal.

MAYTHABASSA!
Dinis Chembene

Thursday, May 7, 2009

Sobre o filho do padeiro que agora habita na ancestralidade!

Este artigo é em homenagem a Augusto Boal, o pai do teatro do oprimido, falecido no dia 02 do mê de Maio corrente. Boal é um dos maiores teatrologos da actualidade, sendo sua obra comparada a grandes nomes do teatro.

Recebemos a triste noticia de que o filho do padeiro havia morrido e que sua alma levitava ao lado os anjos, num lugar desconhecido, mas almejado por todos, apenas ao alcance de pessoas com uma dimensão como a sua.

Esta noticia deixou-nos bastante intrigados. Sempre pensamos que cidadãos como Augusto Boal, a historia não concede o direito a morte! Então como seria possivel a morte ter se apossado dele.

Sempre pensamos e juramos que temos certeza que cidadãos com uma dimensão humanistica, com alto grau de integridade, de responsabilidade, cidadãos com causas bem definidas e cuja historia deu uma missão trajada de “nobleza” não morrem.

Não morrem aqueles que tem compaixão e respeito pelo semelhante, aqueles que não se deixam abater perante as adversidades impostas pelos opressores, aqueles que não se vergam perante injustiças, praticadas contra si e seus semelhantes, nem que isso signifique que devam passar dias, meses e anos em calabouços que ultrajam a dignidade humana, privados do afecto e companhia de familiares e amigos. Nem que para isso tenham que exilar-se, obrigados a sair da terra, da gente e das coisas que amam. A luta tem que ser feita por fora ou por dentro. Assim fez Boal, no seu longo exilio, mas por fim regressou onde suas raizes estão bem assentes no chão.

Não morrem aqueles que, como Boal bem disse, dedicam sua arte a vida. Estes vivem junto com seus actos e feitos, vivem em cada opressão que é quebrada por todo o lado onde se “teatroprimizam” as relacões do cotidiano. Vivem para testemunhar as transformacões que sua consciencia provoca numa sociedade dominada pela opressão e por abominaveis injustiças.

Vivem, como Boal ontem, hoje e sempre, para que haja esperança, para que abandonemos o conformismo que a alienaçao produz e a todo custo procura manter e expandir. O opressor descobriu uma arma e a usa a todo o custo. Mas Boal, mais astuto, descobriu o trunfo do opressor!

Como observou Stive Biku, um dos bons filhos da Africa, “a arma mais poderosa que está nas mãos do opressor é a mente do oprimido”. Boal sabe disso, por isso “ferramentou-se” com uma abordagem centrada no oprimido, o seu teatro é do, para, sobre, e feito pelo oprimido.

Um homem da dimensão de Boal não morre, de jeito nenhum, ele transita para um novo plano puxado pela correnteza de nobres missões. Transita para a ancestralidade, apenas acessivel a aqueles cuja historia e biografia não concede o castigo de viver no escuro e conformismo da morte.

Boal vive na luz, na esperança, no sorriso que queremos que baile no rosto das crianças por viverem num mundo sem injustiças e descriminações. Vive Boal na certeza de que sua, nossa luta é para expandir a aqueles cujos opressores teimam em manter na distorção da caverna.

A familia Boal um forte abraço carregado de carinho e calor da Africa.
Ao pessoal do CTO-RIO: os momentos dificies dignificam a nossa trajectoria, e a qualidade de nossas vitorias. Esta missão é para levar pra frente.

Ate sempre filho do padeiro da Penha!