Monday, March 16, 2009

A ética e a solidariedade são características essenciais para uma acção de Teatro do Oprimido, incluindo a sua estética.

Muitas pessoas devem se admirar e questionar o por que da rápida expansão do Teatro do Oprimido (TO) pelo mundo. Uma técnica criada por um cidadão de um país que pode ser considerado do terceiro mundo. Um país do Hemisfério Sul.

O TO não tem tido sucesso e impacto somente por ser uma técnica de teatro bastante criativa e introspectiva, que se apresenta como um modelo assente na estética e na criatividade. Estas características por si não bastam para justificar a enorme aderência ao teatro, mas sim a sua proposta transformadora. “O acto de transformar é transformador.”

Este Método rege-se por um conjunto de princípios que baseiam-se em vários pressupostos. Gostaria de enaltecer aqui, do conjunto dos componentes da Árvore do Teatro do Oprimido, a ética e a solidariedade. Estas são características essenciais para uma acção de Teatro do Oprimido, incluindo a sua estética.

A cena e o fórum são momentos intermediários entre o processo da identificação do problema e a transformação. Primeiro a pessoa identifica o problema, reconhece que é seu e ou de seus semelhantes, solidariza-se e propõe-se a agir. O agir no Teatro do Oprimido significa sair de uma situação de opressão para uma que consideramos aceitável, ou seja, que não fere a dignidade da espécie humana. O ser torna-se humano quando descobre o teatro.

E isso não deve significar tornar o seu antigo opressor em vítima das nossas acções. O objectivo no Teatro do Oprimido não é sair da condição de oprimido e assumir a de opressor, mas, sim, responsabilizar o opressor por suas acções, especialmente, nos conflitos não-antongônicos, quando a relação, apesar de conflituosa, não coloca oprimidos e opressores como inimigos irremediáveis. A ideia não é derrotar, é superar a condição de opressão. No caso dos conflitos antagónicos, torna-se necessário anular o poder do arsenal do opressor.

A ideia deve ser estabelecer acções entre os seres humanos e o seu modo de ser e de pensar com vista a uma mudança de comportamento e suas consequências. O Teatro do Oprimido é ético porque faz algo que beneficia o oprimido. O homem vive em sociedade, por isso, deve indagar-se de como deve agir perante os outros.

Outro elemento que deve ser levado em conta na rápida expansão do Teatro do Oprimido é a solidariedade para com outrem. Por mais que o problema não seja nosso, no TO podemos intervir ajudando os outros a resolver os seus problemas. Aqui podemos disponibilizar um mecanismo de diálogo e não exactamente resolver os problemas dos outros. A teoria é dar o anzol e ensinar a pescar e não exactamente dar o peixe.

Podemos e devemos ser solidários para com nossos semelhantes, pressupondo isto a consciência da nossa condição de cidadão e a nossa responsabilidade como membros da comunidade e ou de um determinado grupo social.

E no nosso caso particular somos membros da família do TO, um teatro de luta que não se furta jamais a enfrentar os problemas. Somos solidários com todos aqueles que são oprimidos.

Nossa luta é dentro e fora de cena!

Dinis Chembene

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